Selfie em velório de Eduardo Campos

A tecnologia que tanto facilita nossos dias e nossos projetos tem feito com que percamos a noção do certo e errado, tem nos feito ficar insensíveis e abrir mão de privacidade e do olhar nos olhos muitas vezes de quem está do nosso lado.
Não quero aqui julgar a mulher da foto e sim refletir sobre o que estamos fazendo das nossas vidas.
Esse self para mim foi uma prova de que a coisa não anda bem e que pode piorar a cada dia se não pararmos para pensar. Pois dessa forma estamos cada dia mais perdendo a noção da realidade.
Uma pessoa sorrindo tirando seu tão lindo self ao lado do caixão de Eduardo Campos, sem perceber o tamanho da tragédia e da dor que representa isso, já que o acidente resultou em mortes, de pessoas saudáveis, ativas, produtivas e que estavam apenas trabalhando por um ideal. Nesse momento muitas famílias estão chorando pelo mesmo motivo, a ausência dos entes queridos que se foram de forma tão banal. Mais um pai de família se foi, independente da importância política, pois estamos falando aqui de vidas!
O que está em foco nessa cena triste, é a falta de sensibilidade e respeito ao próximo, diante da realidade e da seriedade da vida.
É um registro importante? Sim! Mas é necessário em uma situação dessa termos o mínimo de respeito pela família que sofre, até porque não estamos falando de uma celebridade que abre as portas de sua mansão para receber amigos, estamos falando de uma pessoa que morreu entre várias outras que estavam com ela, e que nesse momento a família está seguindo um protocolo para enfim deixar os mortos seguirem em paz para que eles sigam com a dor da perda para sempre!
Essas cenas tem me feito repensar minhas próprias atitudes já que também me acho escrava da Tecnologia.
Sempre digo que o momento que mais conversamos em família é quando "acaba a luz em casa" porque diante dos aparelhos eletrônicos desligados nos conseguimos olhar nos olhos um dos outros e CONVERSAR.
Tudo começou com essa facilidade de registrar cada momento do nosso dia, compartilhar e confraternizar com os amigos e registrar isso em tempo real, olha que lindo!
Mas a coisa chegou num ponto tal que saímos para confraternizar com os amigos e ninguém conversa mais. Trocamos beijos e abraços num primeiro momento, dai sentamos a mesa e todos vão conferir e-mails e redes sociais, dai conversa-se uns 3 minutos (no máximo) e logo tiramos umas 300 fotos, e logo depois ficamos mais umas 2 horas postando no Instagram, Facebook e Twiter e o silêncio volta a fazer parte da cena, e todas as risadas agora são para o próprio celular, pois alguém comentou algo engraçado em tempo real naquela foto tirada. E assim seguimos num círculo vicioso, que espero ter volta, sem se preocupar com a presença humana que está ali ao seu lado.
Dessa forma vamos perdendo o melhor da vida, o olhar nos olhos, o abraço gostoso e demorado de quem não vemos a tempos, o compartilhar das historias, pois o tempo é curto entre uma conversa e uma postagem então a atenção tem que ser reduzida quando as palavras se fazem presentes.
Uma frase tem corrido pelas redes sociais de outra tragédia recente onde Robin Williams alega que a maior solidão é aquela que estamos rodeados de pessoas e nos sentindo sós, e é para isso que estamos caminhando todos os dias, com esses selfs desnecessários, que nos fazem desrespeitar a dor alheia, nos faz perder a noção do ridículo ou mesmo do certo e errado, para passar uma realidade cheia de "alegria, glamour e exclusividade".
Hoje tenho iniciativa para mudar, nem que seja só a minha realidade, já que as pessoas estão sempre muito preocupadas com seus mundos particulares, para provar que não temos porque nos submeter a essa realidade. Tenho guardado o celular em conversas para dar oportunidade de ouvir e ser ouvida provando para mim mesma que precisamos usar a tecnologia a nosso favor e não ficar escravo dela, esquecendo valores, realidade, noção, respeito a você e ao próximo.

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Graziela Morais